Sentei à mesa daquele boteco velho. Não era fedido. Serviam A la Minuta. Há dias que não almoço. Ando comendo toda sorte de porcaria. Economia de tempo e de dinheiro. Era pra ser um dia bom, mas a chuva lá fora impedia minha alegria completa. Há dias não acho um sorriso no meu rosto. Não ando tendo motivos pra tanto. Sentei e esperei. A moça disse que já chegava. Comida de verdade. Espera de verdade. Foi aí que a epifania se desnudou. Um homem, de aparência humilde, escassos dentes na boca nua, olhos enviesados, adentrou o pesado ar do recinto. "Uma taça de café com leite e um pão com manteiga", pediu ele, sucinto. Não sei se foi a simplicidade do pedido ou a tortuosa figura que o fazia, mas essa cena me deu um nó na garganta. Lembrei da última crônica do Sabino. Lembrei da minha infância bucólica. Lembrei que há tempos esqueci o que é chorar. Até ando tendo motivos para tanto. Estranhamente, meus olhos marejaram. Me segurei para não derramar ali minha pieguice reencontrada. Olhei para o lado, havia uma TV que transmitia uma novela requentada. Mas a figura em minha frente era, de fato, cativante. Seu sorriso despreocupado e seus olhos brilhantes perante a TV contrastavam com a pobreza do prato à sua frente. Tentei lembrar quando foi a última vez que me comovi. Não consegui. O A la minuta chegou. Comi aos poucos, para lembrar como era um almoço, para esquecer meus sentimentos escusos. Só me atrevi a olhar novamente quando o sujeito se levantou. Do bolso dele saíram gordas notas de cinquenta para quitar a parca dívida. E eu, definitivamente comovido, lembrei que teria que contar minhas moedas para pagar o único almoço que tive em dias.
3 comentários:
Pobres pobrinhos.
Eu não lembro o que é um almoço...
Queres um abraço?
gostei. =)
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