No início era uma sombra. Um escombro. Quase um assombro de temeridade. Depois veio a luz, incerta, duvidosa. Um feixe, apenas, nada mais. Para quê mais? Eu simplesmente abri os olhos, foi isso. Não sinto minhas pernas. Não quero nem olhar, posso nem mais tê-las. Escombros. É isso! No início não foi uma sombra, foi um clarão. Eu lembro dele. Na verdade não lembro de nada. Posso estar mentindo, é justo. Mas havia um clarão? Havia uma dúvida, sem dúvida. Sim, havia uma dívida. Comigo mesmo, mais do que qualquer um. Só que eu não cobraria. Precisava que alguém me cobrasse, que me jogasse para frente, que me empurrasse para qualquer direção. Era direito que assim o fizesse. Mas então a dívida veio primeiro? Acho que sim, depois a dúvida, depois o clarão, depois o assombro, o escombro, o escuro. E tudo está claro de novo. Pelo menos aos meu olhos. Preciso sair deste buraco.