sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um corretor

Eu sou um corretor. Desses que ficando corrigindo os erros dos outros e rindo disfarçadamente pelas suas costas. É engraçado mesmo. Ganho a vida corrigindo quem não sabe escrever direito. Na verdade, você deve estar se lichando para o que eu faço ou deixo de fazer. Mas eu também não dou a mínima para o que faço.

Nunca precizei me entupir de livros, ou coisa parecida, sempre tive um talento natural pra coisa, sabe? Eu sempre fui bom em bater o olho e ver uma discrepânsia ortográfica. Ler era perca de tempo, eu sempre tive o dom.

Ainda assim resolvi fazer Letras, não porquê eu precizasse mas se eu não tivece um diploma ninguém me daria emprego. É a lei da vida. Voçê se fode estudando para arrumar um trabalho de merda e ganhar um salário de merda, mas se você não faz isso é pior ainda. Por mais que eu tivesse o dom, eu precizava do maldito canudo.

Arrumei esse emprego e fico aqui o dia inteiro, corrigindo as bobagens dos outros ganhando dinheiro nessa editora furreca. As vezes pego uma tese de mestrado ou um trabalho acadêmico pra revizar e ganhar uma grana, mas a horas que não aparece nada. Então sigo na minha vida, casa, trabalho e buteco. Isso mesmo, todo o dinheiro que eu ganho corrigindo os idiotas escorrem guela abaixo na cerveja que eu bebo.

Eu hoje tô mal humorado, é sexta-feira e meu chefe tá me encomodando. Dizendo para ter atenção na hora de corrigir os "desvios de linguagem". Desvio, o caralho. É erro mesmo. Essa gente escreve errado, é burra semianalfabeta, acéfala. Mas eu concordo, não posso tirar o direto do homem reclamar. Por mais bom que eu seje, ele preciza fazer o papel dele de chefe.

Era isso, pessoal, mas um fim-de-semana se aproxima e as garrafa me esperam no bar. Estou só pela ordem do chefe para ir e beber até não conseguir mais me mecher. Se vocês precizarem, podem me mandar os seus trabalhos que eu corrigio na boa, afinal já fazem anos que faço isso. E desde sempre eu fui o melhor. Prometo que não não vou rir das besteiras que vocês cometerem. Não muito.