quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
O homem que queria publicar ou This is the end, beautiful friend
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
A fila
Um homem, um dia, decidiu que teria sua própria fila.
Nada de muito importante.
Queria apenas comprovar o quão forte é o poder atrativo de uma fila.
Acordou cedo, mais cedo que o costume. As lojas estavam fechadas àquela hora. Parou sem motivo aparente à frente de uma loja de eletrodomésticos. E ali ficou a fila. Sentiu sono e por pouco não dormiu de pé. Acordou e viu que a fila estava formada. Não era mais que vinte ou trinta pessoas, mas em tempo recorde e sem motivo aparente o que fazia desta fila uma fila, no mínimo, inusitada. Riu-se. Quase gargalhou. Estava provado, havia mesmo um magnetismo inexplicável que atraía as pessoas para a fila.
Passados alguns minutos – e a fila não parava de crescer – o homem fez um gesto encenado de descontentamento com a não abertura da loja. Olhou o relógio e quase que assustado fez uma careta de atrasado. Estava dado o signo: “Não posso mais esperar”. Saiu rindo, gargalhando, quase perdendo o fôlego da façanha que aprontara. Teve sua glória, podia falar orgulhoso para os amigos.
(...)
Recorte de jornal do dia seguinte:
Moral da história: Nunca brinque com mitos populares.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Um corretor
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
a meu derredor
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
a cura
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
ria, palhaço!
"Ouvi uma piada uma vez. Homem vai ao médico. Diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto. Médico diz ‘Tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade. Assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo'. Homem se desfaz
Esticada a lona. Debaixo do céu, um outro céu se desfralda. E é sob este céu que os súditos acotovelam-se para reverenciar a sua majestade: o palhaço. Com Cocuruto não é diferente. No picadeiro ele é o monarca. E ao mesmo tempo, o bobo. Acompanhado de seu fiel escudeiro, o anão Davi, ele faz estripulias que fazem o público ir à loucura. E cada dia era mais um dia para Cocuruto, ao contrário de seu público. E foi num dia como outro dia, em uma estripulia como tantas outras, que o inédito público testemunhou algo tão inédito quanto eles. Cocuruto desmaiou no picadeiro. Davi já estava acostumado. Fazia parte do número. Não daquela vez. E quando Davi deu-se conta que seu esforço colossal, que normalmente fazia o parceiro saltitar, de nada adiantara, correu desbaratinadamente para atrás do picadeiro. Quanto mais o anão se desesperava, mais o público gargalhava.
No dia seguinte, o Sr. Asclépio chamou Cocuruto, que, ainda grogue do tombo e do susto da noite passada, recebeu do outro dinheiro para que fosse ao médico. Cocuruto até resmungaria, pois de sua vida simples orgulhava-se de nunca ter de visitar um médico. De fato não gostava deles. Porém ordens são ordens.
O médico não lhe deu receita. Deu-lhe apenas um bilhete e disse que tudo estava bem. Como Cocuruto não sabia ler e o médico era um grande amigo de seu patrão, ele acalmara-se. Sossegado, Cocuruto entregou o bilhete ao Sr. Asclépio que o leu, olhou para ambos os lados, e rasgou-o. Depois, ordenou que Cocuruto voltasse ao trabalho.
Apesar das dores de cabeça, Cocuruto voltou ao trono. Seus dias de rei continuaram. Até que um dia como outro qualquer, em uma estripulia como tantas outras, Cocuruto desmaiou. O público gargalhou como nunca.
No dia seguinte, pelo menos, o funeral foi digno.