segunda-feira, 9 de agosto de 2010

a cura

Em 2003, estava eu no primeiro ano do curso de Letras. Sempre gostei de escrever e criar histórias, porém, naquele ano, talvez por estar me achando um letrado, talvez por estar estudando Teoria da Literatura, escrevi o que considero o meu primeiro conto dentre vários outros que já escrevi - muitos deles publicados aqui.
Na verdade, até pelo fato de ser um iniciante, este conto não é, de longe, um dos melhores que já escrevi. Vendo com a distância que me permite o discernimento, até posso dizer que é um dos meus contos mais fraquinhos. Não simpatizo muito com ele, hoje. Até por isso ele não consta do arquivo deste blog.
O conto em questão se chama "A Cura", e conta (perdão pela redundância) a história de um médico, com problemas com seu passado, que volta a sua cidade natal, depois de anos, para confrontar os seus fantasmas.
Em 2005, após a insistência de alguns amigos, resolvi submeter o conto à seleção da Revista Enlaces (da Coordenação do Curso de Letras da FURG). O conto foi aceito e se tornou o meu primeiro trabalho de ficção a ser publicado. Mesmo sabendo que não era um trabalho inspirado fiquei contente com a aprovação e, claro, com a publicação.
Abaixo, um Print Screen da página da revista:

Se você, assim como eu, não é muito de assistir TV deve estar se perguntando o que isso tem a ver. Bueno, é que na semana passada eu descobri que a Globo está lançando uma minissérie (eles chamam de série, apesar de que, para mim, série é outra coisa). Até aí nada de novo, porque volta e meia a Globo lança "séries" novas.
Acontece que a nova "série" da Globo se chama "A Cura" e conta a história de Dimas (Selton Mello), um médico que retorna a sua cidade natal para fazer as pazes com seu passado. O mote é praticamente o mesmo! É claro que o desenrolar da trama é diferente. Enquanto no meu conto falo de bullying e doenças raras, a "série" parece que vai abordar poderes místicos e acusações de assassinato.
Eu sei que parece muito difícil alguém ter lido meu conto, publicado quase que obscuramente, e se utilizado dele de forma ilícita, mas fiquei assustado quando vi a chamada do programa e percebi as coincidências. Ou eu estou exagerando?


A "série" começa amanhã e eu vou acompanhar. Até porque ela conta com o Selton Mello, um ator que eu gosto bastante e que, para mim, sempre realiza bons trabalhos.

Quem quiser conferir o meu conto, pode baixá-lo aqui, e tirar as dúvidas.

E que qualquer semelhança seja só mera coincidência.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

ria, palhaço!

"Ouvi uma piada uma vez. Homem vai ao médico. Diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto. Médico diz ‘Tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade. Assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo'. Homem se desfaz em lágrimas. E diz 'Mas, doutor, eu sou o Pagliacci'."

Alan Moore (Watchmen)


Esticada a lona. Debaixo do céu, um outro céu se desfralda. E é sob este céu que os súditos acotovelam-se para reverenciar a sua majestade: o palhaço. Com Cocuruto não é diferente. No picadeiro ele é o monarca. E ao mesmo tempo, o bobo. Acompanhado de seu fiel escudeiro, o anão Davi, ele faz estripulias que fazem o público ir à loucura. E cada dia era mais um dia para Cocuruto, ao contrário de seu público. E foi num dia como outro dia, em uma estripulia como tantas outras, que o inédito público testemunhou algo tão inédito quanto eles. Cocuruto desmaiou no picadeiro. Davi já estava acostumado. Fazia parte do número. Não daquela vez. E quando Davi deu-se conta que seu esforço colossal, que normalmente fazia o parceiro saltitar, de nada adiantara, correu desbaratinadamente para atrás do picadeiro. Quanto mais o anão se desesperava, mais o público gargalhava.

No dia seguinte, o Sr. Asclépio chamou Cocuruto, que, ainda grogue do tombo e do susto da noite passada, recebeu do outro dinheiro para que fosse ao médico. Cocuruto até resmungaria, pois de sua vida simples orgulhava-se de nunca ter de visitar um médico. De fato não gostava deles. Porém ordens são ordens.

O médico não lhe deu receita. Deu-lhe apenas um bilhete e disse que tudo estava bem. Como Cocuruto não sabia ler e o médico era um grande amigo de seu patrão, ele acalmara-se. Sossegado, Cocuruto entregou o bilhete ao Sr. Asclépio que o leu, olhou para ambos os lados, e rasgou-o. Depois, ordenou que Cocuruto voltasse ao trabalho.

Apesar das dores de cabeça, Cocuruto voltou ao trono. Seus dias de rei continuaram. Até que um dia como outro qualquer, em uma estripulia como tantas outras, Cocuruto desmaiou. O público gargalhou como nunca.

No dia seguinte, pelo menos, o funeral foi digno.