quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

criando asas

O blog está quase completando um ano (apesar de as postagens estarem raras). Estive refletindo e acho que está chegando a hora de dar um passo à frente, criar asas.

Em breve teremos (grandes) novidades.

Aguardem..

PS: Gostaria de agradecer a todos que acessaram, postaram comentários, deram estrelinhas e a todos que, de algum modo, fizeram com que este blog fosse motivo de orgulho pra mim. Muito Obrigado.

sábado, 31 de outubro de 2009

tudo o que o amanhã me trouxe

Tudo o que o amanhã me trouxe foi um sonho desperdiçado, daqueles em que se acorda no momento em que se tem certeza que seria grande coisa, porém, no entanto, não se tem lembrança exata do que se perdeu. Tudo o que o amanhã me trouxe foi o salivar desesperado a que se é submetido no momento em que se descobre que o sorvete de morango, não se sabe por que motivo, acabou. Tudo o que o amanhã me trouxe foi a surpresa desagradável que se tem quando se descobre que o livro que se tanto queria, cujos níqueis suados que o pagariam estão no seu bolso surrado, está esgotado. Tudo que o amanhã me trouxe foi a recusa impensável daquele amor que se desprezava e que, de um momento pra outro, passou a ser indispensável, mas que, sabe-se lá por que, não mais o quis. Tudo que o amanhã me trouxe foi a queda de energia no exato momento em que se terminava um texto e que ingenuamente não havia sido salvo anteriormente e, justamente por isso, ficou pra sempre perdido. Tudo o que o amanhã me trouxe são lembranças pérfidas que teimo em trazer à tona pra não esquecer dos erros que ainda vou cometer.

domingo, 4 de outubro de 2009

havia dias em que acordava com a camisa da seleção

Havia dias em que acordava com a camisa da seleção. Era a senha. A mãe e o filho precisavam correr para arrumar tudo, enquanto o avô tomava seu solitário café da manhã. Era preciso arrumar a sala, tirar os porta-retratos recentes, resgatar do sótão o velho vídeo-cassete (que ficava aparentemente desligado) e retirar da redoma meticulosamente escondida a famigerada fita VHS.

O avô não estava bem da cabeça. Passava dias, até meses sem dizer palavra. Quando resolvia abrir a boca era em uma ocasião temida pela sua filha e seu neto. Era quando acordava com a camisa da seleção.

A mãe e o filho já sabiam as consequências do não-cumprimento do sagrado ritual de adaptação. E não queriam que se repetissem. Era por isso que, toda vez que o avô acordava com a camisa da seleção, eles sacrificavam seu dia em prol do resto de sanidade que havia no avô. Esses dias eram, via de regra, dias tristes.

A cisma do avô estava em 1986. Para quem não sabe, este ano era ano de Copa do Mundo. E o avô não só era um ufanista incorrígivel como também um aficionado pelo futebol do meia Zico. Zico quase não jogara aquele campeonato pois estava machucado. Ainda assim, nas quartas-de-final, o meia entrou em campo e prontificou-se a bater um pênalti. O avô, extasiado, repetia mantricamente que o Zico nunca errava um pênalti. Pois o Zico errou. E daquele dia em diante, a cabeça do avô entrou em parafuso.

Nunca se recuperara. Os filhos buscaram ajuda, tentaram de tudo. No avô apenas o olhar parado, incrédulo, da hora do pênalti ficara petrificado.

E assim passaram os anos. Uns filhos desistiram, outros esqueceram do velho. Apenas sua filha mais dileta encarregou-se de seus cuidados. E, claro, dos dias em que acordava com a camisa da seleção.

Tentaram acordá-lo a todo custo. Era inútil. O avô estava imerso em mundo do qual não tinha controle.

A mãe, com a ajuda do filho, conseguiu uma fita com o jogo na íntegra. Era um ritual fácil, apesar de doloroso. O avô tomava o café solitário e ficava mudo até a tarde, quando, animadíssimo, cutucava o neto, instigando-o a ver o jogo. O neto ligava a TV - a fita já estava preparada - e acompanhava o avô na torcida até o momento do pênalti, do olhar petrificado e dos dias de mudez.

O filho - que também era o neto - às vezes revoltava-se contra seu destino atroz. Porém, as súplicas da mãe sempre o faziam resignar-se e aceitar o injusto carma. E assim era sua rotina até o dia em que o avô, mais uma vez, acordou com a camisa da seleção.

A correria já não era a mesma. Tinham treino e executavam as ações com a precisão de uma equipe de nado sincronizado. Almoçaram tristemente acompanhados da mudez do avô. O neto - que também era o filho - fingiu a mesma cara de surpresa quando o avô o avisou do jogo. A mãe e o filho/neto já nem assistiam direito à partida. Haviam decorado cada drible, cada passe errado, cada carrinho e chute desperdiçado. Apenas esperavam a hora do pênalti maldito.

E assim foi. Enfastiados e falsamente entusiasmados, a mãe e o filho viram Zico, pela enésima vez, preparar a cobrança. O meio campo deu sua tradicional meia corrida e com o pé direito fustigou fortemente a pelota que estufou os cordões da rede e descansou serena no fundo do gol.

O terror instalou-se. A mãe e o filho entreolharam-se, numa mudez gritante. O avô repetia em regozijo que o Zico nunca errava. A mãe e o filho voltaram-se para a TV, incrédulos. O replay não desmentia a alegria do avô. Os olhos da mãe e do filho ficaram parados, petrificados.

E desde então, toda vez que acordam com a camisa da seleção o avô precisa cumprir um dificultoso ritual em prol do que resta de sanidade na filha e no neto.

domingo, 27 de setembro de 2009

websarau

Participei, com muito gosto, do websarau promovido pela Andréia Pires (agora de "casa" nova). Taí o resultado:


Este poema chama-se "Sólo para verte" e é de autoria da poeta argentina Nela Rio. A Andréia fez a dissertação de mestrado dela sobre a obra da autora. Quem quiser ver outros vídeos em homenagem à poeta ou mesmo participar da iniciativa basta acessar o blog Quando Nela Rio, também da Andréia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o contador de calculadoras

Era uma vez um cara cuja função era contar calculadoras. Calculava brevemente quantas deviam ali estar. Se ele usasse uma das quais tinha que contar para fazer a conta acabava perdendo-se nas contas. Conta-se que o tal contador se contentava com quantas pudesse contar. Às vezes contava muitas, outras vezes cantava um pouco quando outras quantas encontrava. Caso estranho este que conto, contar calculadoras pode gerar um loop de danos incontáveis. Isso calculo eu. Ficar à cata, de algo que conta, contando aos poucos pelos cantos. Que encanto há nisso? Mas era preciso que alguém contasse as calculadoras na conta exata para que estas exatamente calculassem os cálculos que não se faz em conta-de-cabeça. É cada coisa que acontece que nem nos damos conta...

PS: Texto em homenagem ao Rody Cáceres.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

mitômano

Eu vou revelar um segredo. Eu matei um homem. Foi legítima defesa, juro. Era um estuprador. Estava prestes a fazer aquilo que lhe dava prazer. Foi meio instintivo. Bati nele com uma pedra, pelas costas. Foi meio covarde, confesso. E só depois que o fiz, percebi que não havia mulher alguma. Ele estava violentando uma cachorra. Tenho certeza. Apesar de a cachorra estar apenas comendo ração, tranquilamente. Posso ter me enganado, é possível, mas já estava feito. Foi o avião que me distraiu. Um que aterrisou no meio da rua, em pleno sol das três da tarde. Engraçado como ninguém se assustou. Nem perceberam os gritos desesperados da mulher, digo, da cachorra. Mas eu sou inocente, viu? Até a Polícia disse isso. Principalmente porque não havia cadáver. Fazer o que se havia uma harpia de três metros no beco em que matei o homem? A harpia comeu ele inteiro, nem pausa pra respirar deu. Antes de sair voando me pediu segredo. E eu sou louco de contrariar uma harpia de três metros? Só estou contando isso pois algo pode acabar dando mal para mim. Ainda mais depois que testemunhei um rato matando um gato. Sardinha envenenada. O gato foi muito pato de cair na conversa mole do rato. O rato disse que tinha consciência social e o gato, por sua vez, poupou a vida do rato por pieguice. Bem feito. Bom, está ficando tarde e preciso ir ver as estrelas. É que um ET amigo meu me prometeu que vai piscar duas vezes as luzes verdes da nave dele quando passar por aqui de novo...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

pieguice perdida

Sentei à mesa daquele boteco velho. Não era fedido. Serviam A la Minuta. Há dias que não almoço. Ando comendo toda sorte de porcaria. Economia de tempo e de dinheiro. Era pra ser um dia bom, mas a chuva lá fora impedia minha alegria completa. Há dias não acho um sorriso no meu rosto. Não ando tendo motivos pra tanto. Sentei e esperei. A moça disse que já chegava. Comida de verdade. Espera de verdade. Foi aí que a epifania se desnudou. Um homem, de aparência humilde, escassos dentes na boca nua, olhos enviesados, adentrou o pesado ar do recinto. "Uma taça de café com leite e um pão com manteiga", pediu ele, sucinto. Não sei se foi a simplicidade do pedido ou a tortuosa figura que o fazia, mas essa cena me deu um nó na garganta. Lembrei da última crônica do Sabino. Lembrei da minha infância bucólica. Lembrei que há tempos esqueci o que é chorar. Até ando tendo motivos para tanto. Estranhamente, meus olhos marejaram. Me segurei para não derramar ali minha pieguice reencontrada. Olhei para o lado, havia uma TV que transmitia uma novela requentada. Mas a figura em minha frente era, de fato, cativante. Seu sorriso despreocupado e seus olhos brilhantes perante a TV contrastavam com a pobreza do prato à sua frente. Tentei lembrar quando foi a última vez que me comovi. Não consegui. O A la minuta chegou. Comi aos poucos, para lembrar como era um almoço, para esquecer meus sentimentos escusos. Só me atrevi a olhar novamente quando o sujeito se levantou. Do bolso dele saíram gordas notas de cinquenta para quitar a parca dívida. E eu, definitivamente comovido, lembrei que teria que contar minhas moedas para pagar o único almoço que tive em dias.

domingo, 30 de agosto de 2009

desmantelando-se

Eu não tenho um braço. Sim, é verdade. Eu não tenho um braço. Perdi esses dias. Tava distraído pensando no futuro, traçando planos. Daí lembrei que no outro dia tinha que acordar cedo, pois meu trabalho exige e meu braço caiu. Assim, do nada. Tentei catar de volta, mas ele se desintegrou quando caiu no chão. Não que eu precise muito dele, mas era de estimação, sabe? O mesmo aconteceu com minha perna esquerda. Foi no dia que eu percebi que tinha três carnês que só vencerão no ano que vem. Um deles em dezembro. E ando assim, perdendo partes aos poucos. Uma orelha, por exemplo, se foi quando tive que largar a faculdade. Mas eu não estou preocupado. Tem gente trabalhando duro para que membros e órgãos biônicos possam existir. Gente como eu, que trabalha duro e não se importa com o amanhã. Para que se preocupar? Basta fazermos bem nosso rotineiro trabalho e estaremos contribuindo para o equílibrio de nossa magnífica sociedade. E enquanto digo isso meu dedo mindinho da mão acabou de se desprender de meu corpo...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

eu e as estrelas...

Bueno, gurizada, vendo o blog do Leonardo, acabei gostando da história das "estrelinhas" que tem por lá. As "estrelas" nada mais são do que um sistema de avaliação do conteúdo dos blogs. Eu sei que tem gente que frequenta aqui e que não gosta de - ou não quer - comentar. Portanto, peço que clique nas "estrelinhas" e exerça a democracia do seu gosto. A partir dessas "estrelinhas" posso ter uma ideia melhor do que anda agradando ou não por aqui. Era isso. Seja feita a sua vontade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

um pouco de destempero no reino dos desesperançados

Nem tudo é tristeza no reino dos desesperançados. Há, às vezes, um vislumbre desajeitado de um horizonte favorável num futuro próximo. Mas poucos atrevem-se a olhá-lo. Um futuro incerto ou um presente confuso? No alto de sua profunda incompreensão, um moribundo resolveu falar. Sabia, por certo, que não o queriam ouvir. No reino dos desesperançados, qualquer ponta de esperança causa pânico. E a coragem é um artigo cuja encomenda dificilmente chega. Mas o moribundo, não se sabe se era um mendigo ou uma autoridade, estava inquieto. No reino dos desesperançados, ninguém espera nada de ninguém. Nem um gesto acolhedor, ou um sorriso furtivo. O mendigo, digo, o moribundo atreveu-se. Começou gesticulando bravamente, como quem encoraja um lutador. Disse, para quem quisesse ouvir, que tomos somos capazes, basta que acreditemos em nós mesmos, em nossas capacidades, em nosso poder pessoal. Que a esperança só morre quando a matamos. Assim sendo, propôs o moribundo, deveremos, a partir de hoje, olharmos com mais confiança nosso futuro, pois tudo o que precisamos está em nós mesmos. Mas estamos no reino dos desesperançados. E todos olharam desconfiados para aquele ser minúsculo. Ninguém lhe deu crédito. Tampouco confiança. Seguiram acreditando que o amanhã só é uma continuação enfadonha de hoje. E o Moribundo voltou-se absorto para a tristeza que poluía o lugar. E todos iam passando. Incrédulos. Insatisfeitos. Nos olhos vazios de cada um a frustração desesperançada de um porvir sem esperanças...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

mil

Eu sei que esse contador que eu uso não é confiável. Eu sei que ele conta as minhas visitas também (aliás, se alguém tiver um contador confiável para me indicar, estou aceitando). Mas é inegável que fico feliz ao ver que o contador de "curiosos" ali do lado atingiu quatro dígitos. Obrigado a todos que visitam o blog, nem que seja esporadicamente, ou só pra saber WTF que porra é essa. Muito thanks. Seguiremos a mil.

domingo, 2 de agosto de 2009

antes que o mundo (e a bateria) acabe

Antes que o mundo acabe, eu quero te dizer que nunca te amei. Sim, te quis e ainda te quero, eu acho, já não sei mais. Desculpa a pressa, mas a minha vida está acabando e acabo de perceber que nunca botei um ponto final nisso. Faltaram alguns pingos nos "i"s, faltou um pouco de amor próprio também, sobrou egoísmo e orgulho para não admitirmos que nos gostamos. Mas o mundo está acabando e tudo é tão tarde para tudo. Errei, erramos, mas eu não voltaria atrás, gosto desse amor equivocado, de vinho vencido e copos vazios. Olha, antes mesmo que minha vida se esvaeça nesse fim de tudo queria te dizer que não me arrependo, teria feito tudo de novo, se me fosse possível. Mas largando um pouco a hipocrisia - e olhando, de novo, no relógio - tenho que dizer que sinto tanta a tua falta, que tudo o que eu queria agora é estar ao teu lado e que eu não queria deixar palavras por dizer, por isso te digo agora que...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

vivendo o vinho

Sabe, eu preferia que tu estivestes aqui em vez dessa garrafa. Eu preferia nem tê-la aberto. Mas a voz em mim fez com que eu fraquejasse. Sabe, o vômito virá após a próxima virada do copo. Mas não me importo, nao vou voltar atrás. Vai ver é mais válido do que voltar a pensar em ti. O vinho me olha e eu olho em volta. Vejo que nada é tão vácuo quanta a vaga lembrança de termos vivido uma fase. Vou me afogar nessa vasilha, na vã esperança de vencer esse vazio. Vou ver TV sem volume. Vou ficar vociferando. Investigando vírgulas em versos. Vivendo o vinho vagarosamente. Vitimizando-me pelo fracasso que eu mesmo inventei.

sábado, 18 de julho de 2009

inacabados...

É incrível a minha capacidade de não terminar algumas coisas que eu começo. Muitas vezes começo bem, mas vem aquela falha final, aquele desdém, aquele relaxamento e deixo o que comecei de lado. Livro é o meu produto preferido para inacabar. Já perdi as contas de quantos comecei a ler e parei no primeiro capítulo, ou até perto do fim. Devo ter alguma tendência ao fracasso. Ou a me enfastiar facilmente. Tenho várias ideias na cabeça no momento, uns três roteiros, uma peça de teatro, vários contos e, até, um romance. Tudo inacabado. Tudo por fazer. Tudo por pensar. Eu preciso me aprofundar em algo, o que me prejudica é essa fome por saber, de querer aprender. Acabo baixando discos dos quais ouço só uma música, filmes que paro de ver na primeira hora. É tudo tão confuso. É tudo tão sem fim. Qualquer dia eu vou embora e não terei feito nem metade das coisas que comecei. Pelo menos terei terminado este texto.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

cópia da que copia

Fito naquela garota
que na máquina copiadora
um livro aberto copia, à toa...

Parece ter a mesma cegueira que a máquina tem.
Ocupada em seu ofício,
nem um olhar à obra se atém!

Enquanto a máquina copia,
ela se mantém vazia
sem os sonhos de alguém...

terça-feira, 7 de julho de 2009

amanhã

Amanhã vai ser um lindo dia. Todo dia eu penso que amanhã vai ser melhor. Amanhã vou arrumar um emprego. Amanhã eu vou comprar um carro. Amanhã eu digo a ela que a amo. Mas amanhã está muito distante. Sempre esteve. Minha vida toda eu sempre pensei em amanhã. Amanhã é meu dia de sorte. Amanhã todos os problemas acabarão. Amanhã vou ganhar na loteria. Amanhã vou casar. E assim, pensando em amanhãs, os hojes se esvaem, perdem seu significado. Para que me preocupar? Amanhã tudo será melhor. Amanhã eu vou ler aquele livro que está me mirando, de cima da estante. Amanhã eu vou ao Cinema. Ontem já nem me lembro mais, já passou, esqueci. O que sou hoje é uma mera sombra de meus ontens frustrados, mas amanhã tudo estará no seu lugar. Amanhã eu vou receber o abraço de alguém que há muito não vejo. Amanhã vou beijar uns lábios esquecidos. Amanhã eu vou encher a cara. Se o calendário marcasse amanhãs em vez de dias, seria muito mais interessante. Um amanhã é imprevísivel. Um amanhã é impenetrável. Amanhã vou dormir até mais tarde. Amanhã vou rir uma risada gostosa com meu melhor amigo. Amanhã meu time vai ser campeão. Amanhã todas as manhãs se reunirão na minha cabeça e nem o pôr-do-sol poderá apagar o sorriso do meu rosto. Amanhã estarei cego, pleno e livre. Amanhã é o dia. Amanhã serei feliz.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

caras legais saem perdendo...

O filme que eu mais assisti na vida foi, sem dúvida, "O Máskara". Tudo por que, quando era guri, gravei o tal filme em VHS, direto da Sessão da Tarde. Quando não havia nada melhor para fazer, eu assistia ao filme. E não foram poucas as vezes que não havia nada para fazer, acredite.

Um cara pôr uma máscara e fazer tudo aquilo que der na telha era uma ideia que me agradava. Principalmente, se o que era feito, fosse com senso de humor, quase uma brincadeira. Havia também Jim Carrey, um dos meus atores preferidos, e Cameron Diaz, em ótima forma. Um filme para qualquer hora.

Vi este filme tantas vezes que decorei certas falas - por certo que o filme era dublado. Uma delas, uma das que ainda me lembro, é quando a personagem Peggy, uma jornalista, pergunta a Stanley (o alter-ego do Máskara) se ele era o "sr. cara legal". Acontece que Stanley é um exemplo de "loser afetivo", uma pessoa solitária cuja única companhia é um cachorro. Alguns anos antes de encontrar a máscara, Stanley havia enviado uma carta, ao programa de Peggy, intitulada "Caras legais saem perdendo", contando um pouco de sua insatisfação afetiva.

"O Máskara" é mais um filme infanto-juvenil que quer passar uma mensagem: seja bonzinho e tudo dará certo. Ao fim do filme, Stanley conquista a mulher dos sonhos e torna-se um herói da cidade. Mas e na vida real? Tenho percebido que conheço várias pessoas com o estilo "Stanley Ipkiss" de ser. Pessoas legais, educadas, engraçadas, inteligentes e... solitárias. Será mesmo que os caras - e me refiro a homens e mulheres - legais saem perdendo?

Fica difícil de entender por que a solidão ataca pessoas tão legais. Seria a timidez? Ou o fato de serem legais é que pesa contra? Ou seria o medo do fracasso?

O que tenho percebido é que a culpa é do "mercado". Não que não haja homens e mulheres disponíveis, sim, há, aos montes. O problema é que "caras legais" não se contentam com pouco. "Caras legais" querem para si "caras legais". É uma reciprocidade lógica. Por que se enganar com alguém que não se merece? Por que querer menos, se "caras legais" são o máximo?

"Caras legais" são minoria, sem dúvida, mas não são espécime rara. Se você olhar bem, for atento/a e observador/a vai perceber que há um/uma "cara legal" bem perto de você. E é claro que nada é fácil ou simples, mas uma hora olhares se cruzam, afinidades se descobrem e, quando menos se espera, você encontrou seu/sua "cara legal". Eu torço muito por todos meus amigos e amigas "caras legais". Sei que, daqui a pouco, todos encontrarão sua cara metade - que será um/uma "cara legal", sem dúvida. E eu, internamente, exclamarei: "Que demais!".

domingo, 21 de junho de 2009

o ser alado

O senhor sabia que há algum tempo conheci um ser alado? Não sei lhe dizer se era um anjo ou coisa que valha. A mim parecia. O senhor por certo irá achar engraçado, eu, um quase cego, dizer-lhe que viu algo. Certo é que vi um vulto, pouco mais do que uma sombra, que se achegou a mim, e senti uma calmaria que há muito não sentia. O senhor acha estranho? Sabe o senhor que não enxergo bem, já o disse. E é duro assim viver, na incerteza do que é certo ou engano. Mas rogo-lhe que me acredite. Por certo que vi um anjo.

Sim, era um anjo, agora estou certo disto. Não sei se era um anjo bom ou um desses que lhe afaga, mas ri nocivamente quando seu rosto não está na direção do dele. O que ocorreu é que ele tinha um carisma, um algo inexplicável que me prendeu a atenção. E me fez bem por um tempo que não sei precisar. O senhor entende? Mas aos poucos o espectro foi se tornando distante quase como algo que eu não pudera tocar. E me senti meio ausente do bem que ele me trazia.

O senhor sabe da minha história. Nem sempre fui assim, quase não enxergando. Já tive olhos brilhantes e bem abertos, de um preto quase da noite. Mas a vida assim quis que eu me cegasse , aos poucos, quase que não querendo ver. E de uma madrugada pra outra as cores foram se perdendo diante de mim, foram os vultos o que me restaram. E deste então tenho dificuldade pra ver, quiçá medo. Porém, o anjo me fez querer ver de novo, com seu jeito duro de me fitar (acredito eu que me fitava).

Isso já faz um tempo, o senhor há de convir. Este ser alado às vezes me espreita, outras me contempla e não raro é indiferente a mim. O senhor não pense que já não tentei tocá-lo. Mas ele é arguto, esquiva-se com facilidade e quando tento, tropeço em algo que meu tato não percebera. Houve um tempo em que desisti de tê-lo ao meu lado, apesar de a figura dele me observar, ao longe - ou seria eu que procurava pela figura dele? - e resolvi me manter na minha calada cegueira. No entanto, toda vez que eu percebia seu vulto voltado pra mim, reacendia-me de esperança.

O senhor deve estar me julgando louco ou algo parecido. Não me importo com tanto. Apenas me importa a presença do anjo, que por ora escasseia. O senhor vai dizer que não existe anjo, que decerto é uma imagem que criei. Acontece que tenho certeza que o tive, por um instante que fosse. E creio que a luz brilhará nos meus olhos de novo, quando eu puder o tocar.

E que seja um anjo torto ou um anjo feérico, ainda gostaria de tê-lo por perto uma vez mais, a mirar meus olhos cegos, quase esquecidos na escuridão. E se o anjo não quiser mais me visitar - talvez nunca o quisesse - saiba o senhor que não esmorecerei. Apenas ficarei um pouco mais cego.

terça-feira, 16 de junho de 2009

não acredito mais nas flores

não acredito mais nas flores
apenas nos espinhos
não acredito mais nos sonhos
apenas durmo sozinho

a incredulidade descrente
absorvida por mim
não creio nos meios
procuro por um fim

não acredito nas rosas
e por que deveria?
se a crença cega
é também vazia

não acredito mais nas flores
que repousam no jardim
deixei de crer na sorte
deixei de crer em mim

By the way, visitem minha página no site Garganta da Serpente.

domingo, 14 de junho de 2009

os vícios nossos de cada dia (ou são tantas vidas que eu nem sei qual é a real)

Às vezes eu esqueço que tenho blog, às vezes eu esqueço que eu existo. Quando a segunda coisa acontece eu me apego à internet e suas maravilhosas ferramentas (Orkut, Twitter e etc...) e/ou a um bom sonho, com vários ingredientes de aventura e sci-fi. Mas a primeira coisa é sempre a mais comum a acontecer. Eu tenho preguiça de escrever. Pronto, falei. Só isso justifica o fato de meu blog ser tão preterido.

Eu escrevo praticamente todos os dias no Twitter. Eu escrevo obrigatoriamente todos os dias no Orkut. Eu comento em blogs e sites de outrem. Meu blog se pergunta "Ó, meu dono, por que me abandonaste?". Não sei te responder, ó filho preterido, já disse que tenho preguiça de escrever. Não que eu não saiba fazê-lo. Até acho que sei. Ou não? Sei lá. Bom, uma coisa é inegável, um blog é algo pessoal e muito mais íntimo que um Orkut ou Twitter da vida. No Orkut, os posts se perdem na multidão, no Twitter, aparentemente, apenas os amigos verão o que foi escrito. Mas aqui, não. As pessoas que aqui entram, supondo que alguém entra aqui, esperam ler algo edificante, renovador e/ou engraçado. E aí, que está o big deal, meu caro blog. Eu não sei se sou capaz para tanto. "Mas peraí, o medo da incompetência, de não ser aceito, não é a causa da sua fuga para este mundo virtual", diria meu perspicaz filho virtual. Tendes razão (já dizia o Conde Maurício de Belmont).

A verdade é que quando a vida não está tão boa assim, apela-se para um subterfúgio, um algo que se quer dizer, mas não há ninguém para ouvir. É claro que às vezes estamos bem e também sentimos necessidade disso, de um complemento. Ah, a vaidade. É essa maldita virtude (?) que nos leva a arriscar, a dar a cara a bater e, objetivo conquistado, aparecer. "Então, se assim me permite dizer, com todo respeito, meu caro pai, se tiveste coragem de ir no botão 'Criar blog' e quiseste te expor desta maneira, assume a bronca!". É verdade, de novo! Nossa, meu blog está impossível hoje. Já aprendi muito com o Orkut, até já me diverti com o Twitter, mas o meu Blog (terei de pôr a maiúscula) nunca tinha falado comigo assim antes, jogando verdades na cara. "Quem te pariu que te embale", diria a minha mãe, a avó do dito cujo. E tem razão.

Cada conta que criamos, cada site que logamos é uma vida nova que se cria. E qualquer tentativa de deixá-la de lado é tão dolorosa quanto uma mutilação. Tens razão, meu filho, terei de te dar atenção daqui pra frente. Terei de exibir a minha vaidade, veias abertas a todos (aqueles que se aventurarem, é bem verdade). É assim nossa natureza, quem não aparece não é lembrado. Às vezes quem aparece, se desmerece. Porém o risco é tudo, para se achar vivo. Até que o LogOut nos separe.

PS: Devo a ressucitação do meu blog à Freak. Ela me mandou um selo, em homenagem a este humilde espaço. Eu teria que repassá-lo a cinco outros endereços. Mas quebrarei a corrente. Gosto mesmo é de nadar contra ela.

Quem quiser conhecer minhas "outras vidas", aí vai:
Twitter
Orkut

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O dia mais feliz

Como isso aqui é um blog de ficção, então tá valendo postar alguma produção audiovisual que eu venha a realizar. Portanto, lá vai:


Enjoy!

segunda-feira, 2 de março de 2009

o caos (parte 1)

No início era uma sombra. Um escombro. Quase um assombro de temeridade. Depois veio a luz, incerta, duvidosa. Um feixe, apenas, nada mais. Para quê mais? Eu simplesmente abri os olhos, foi isso. Não sinto minhas pernas. Não quero nem olhar, posso nem mais tê-las. Escombros. É isso! No início não foi uma sombra, foi um clarão. Eu lembro dele. Na verdade não lembro de nada. Posso estar mentindo, é justo. Mas havia um clarão? Havia uma dúvida, sem dúvida. Sim, havia uma dívida. Comigo mesmo, mais do que qualquer um. Só que eu não cobraria. Precisava que alguém me cobrasse, que me jogasse para frente, que me empurrasse para qualquer direção. Era direito que assim o fizesse. Mas então a dívida veio primeiro? Acho que sim, depois a dúvida, depois o clarão, depois o assombro, o escombro, o escuro. E tudo está claro de novo. Pelo menos aos meu olhos. Preciso sair deste buraco.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

sentimento

Há algo vazio em tudo
Há um nada transbordando em mim
Há uma razão no absurdo
Há um princípio no fim

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

despretensioso

Quem sabe
despejo a pecha
de desleixado
e deixo de lado
a Vida.
Desperto
do outro lado
disperso e desesperado,
desiludido e desavisado,
distante
de todo disparate.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Há um copo com gelo em cima da mesa. Por que será que eu não lembro de ter bebido? Pensando mais calmamente, eu não me lembro nem de ter acordado. Sequer lembro de ter me lembrado de alguma coisa. Não lembro de nada que tenha acontecido comigo nos últimos dez minutos. Ou nos últimos dez anos. Ao menos não sou uma barata, talvez seria melhor que fosse. Há restos de feto em meu colchão? Não lembro de nada que me lembre este lugar. É estupidamente estranho. Sinto como se tivesse renascido, agora nesse instante. O problema não é ter que caminhar, é não saber para onde ir. Não há ninguém para eu seguir. Apenas o maldito copo vazio com gelo. Porém, hora a mais ou hora a menos o gelo irá derreter, sem nenhum medo. Eu ficarei aqui, em pé, parado, esperando uma direção.