sexta-feira, 26 de junho de 2009

caras legais saem perdendo...

O filme que eu mais assisti na vida foi, sem dúvida, "O Máskara". Tudo por que, quando era guri, gravei o tal filme em VHS, direto da Sessão da Tarde. Quando não havia nada melhor para fazer, eu assistia ao filme. E não foram poucas as vezes que não havia nada para fazer, acredite.

Um cara pôr uma máscara e fazer tudo aquilo que der na telha era uma ideia que me agradava. Principalmente, se o que era feito, fosse com senso de humor, quase uma brincadeira. Havia também Jim Carrey, um dos meus atores preferidos, e Cameron Diaz, em ótima forma. Um filme para qualquer hora.

Vi este filme tantas vezes que decorei certas falas - por certo que o filme era dublado. Uma delas, uma das que ainda me lembro, é quando a personagem Peggy, uma jornalista, pergunta a Stanley (o alter-ego do Máskara) se ele era o "sr. cara legal". Acontece que Stanley é um exemplo de "loser afetivo", uma pessoa solitária cuja única companhia é um cachorro. Alguns anos antes de encontrar a máscara, Stanley havia enviado uma carta, ao programa de Peggy, intitulada "Caras legais saem perdendo", contando um pouco de sua insatisfação afetiva.

"O Máskara" é mais um filme infanto-juvenil que quer passar uma mensagem: seja bonzinho e tudo dará certo. Ao fim do filme, Stanley conquista a mulher dos sonhos e torna-se um herói da cidade. Mas e na vida real? Tenho percebido que conheço várias pessoas com o estilo "Stanley Ipkiss" de ser. Pessoas legais, educadas, engraçadas, inteligentes e... solitárias. Será mesmo que os caras - e me refiro a homens e mulheres - legais saem perdendo?

Fica difícil de entender por que a solidão ataca pessoas tão legais. Seria a timidez? Ou o fato de serem legais é que pesa contra? Ou seria o medo do fracasso?

O que tenho percebido é que a culpa é do "mercado". Não que não haja homens e mulheres disponíveis, sim, há, aos montes. O problema é que "caras legais" não se contentam com pouco. "Caras legais" querem para si "caras legais". É uma reciprocidade lógica. Por que se enganar com alguém que não se merece? Por que querer menos, se "caras legais" são o máximo?

"Caras legais" são minoria, sem dúvida, mas não são espécime rara. Se você olhar bem, for atento/a e observador/a vai perceber que há um/uma "cara legal" bem perto de você. E é claro que nada é fácil ou simples, mas uma hora olhares se cruzam, afinidades se descobrem e, quando menos se espera, você encontrou seu/sua "cara legal". Eu torço muito por todos meus amigos e amigas "caras legais". Sei que, daqui a pouco, todos encontrarão sua cara metade - que será um/uma "cara legal", sem dúvida. E eu, internamente, exclamarei: "Que demais!".

domingo, 21 de junho de 2009

o ser alado

O senhor sabia que há algum tempo conheci um ser alado? Não sei lhe dizer se era um anjo ou coisa que valha. A mim parecia. O senhor por certo irá achar engraçado, eu, um quase cego, dizer-lhe que viu algo. Certo é que vi um vulto, pouco mais do que uma sombra, que se achegou a mim, e senti uma calmaria que há muito não sentia. O senhor acha estranho? Sabe o senhor que não enxergo bem, já o disse. E é duro assim viver, na incerteza do que é certo ou engano. Mas rogo-lhe que me acredite. Por certo que vi um anjo.

Sim, era um anjo, agora estou certo disto. Não sei se era um anjo bom ou um desses que lhe afaga, mas ri nocivamente quando seu rosto não está na direção do dele. O que ocorreu é que ele tinha um carisma, um algo inexplicável que me prendeu a atenção. E me fez bem por um tempo que não sei precisar. O senhor entende? Mas aos poucos o espectro foi se tornando distante quase como algo que eu não pudera tocar. E me senti meio ausente do bem que ele me trazia.

O senhor sabe da minha história. Nem sempre fui assim, quase não enxergando. Já tive olhos brilhantes e bem abertos, de um preto quase da noite. Mas a vida assim quis que eu me cegasse , aos poucos, quase que não querendo ver. E de uma madrugada pra outra as cores foram se perdendo diante de mim, foram os vultos o que me restaram. E deste então tenho dificuldade pra ver, quiçá medo. Porém, o anjo me fez querer ver de novo, com seu jeito duro de me fitar (acredito eu que me fitava).

Isso já faz um tempo, o senhor há de convir. Este ser alado às vezes me espreita, outras me contempla e não raro é indiferente a mim. O senhor não pense que já não tentei tocá-lo. Mas ele é arguto, esquiva-se com facilidade e quando tento, tropeço em algo que meu tato não percebera. Houve um tempo em que desisti de tê-lo ao meu lado, apesar de a figura dele me observar, ao longe - ou seria eu que procurava pela figura dele? - e resolvi me manter na minha calada cegueira. No entanto, toda vez que eu percebia seu vulto voltado pra mim, reacendia-me de esperança.

O senhor deve estar me julgando louco ou algo parecido. Não me importo com tanto. Apenas me importa a presença do anjo, que por ora escasseia. O senhor vai dizer que não existe anjo, que decerto é uma imagem que criei. Acontece que tenho certeza que o tive, por um instante que fosse. E creio que a luz brilhará nos meus olhos de novo, quando eu puder o tocar.

E que seja um anjo torto ou um anjo feérico, ainda gostaria de tê-lo por perto uma vez mais, a mirar meus olhos cegos, quase esquecidos na escuridão. E se o anjo não quiser mais me visitar - talvez nunca o quisesse - saiba o senhor que não esmorecerei. Apenas ficarei um pouco mais cego.

terça-feira, 16 de junho de 2009

não acredito mais nas flores

não acredito mais nas flores
apenas nos espinhos
não acredito mais nos sonhos
apenas durmo sozinho

a incredulidade descrente
absorvida por mim
não creio nos meios
procuro por um fim

não acredito nas rosas
e por que deveria?
se a crença cega
é também vazia

não acredito mais nas flores
que repousam no jardim
deixei de crer na sorte
deixei de crer em mim

By the way, visitem minha página no site Garganta da Serpente.

domingo, 14 de junho de 2009

os vícios nossos de cada dia (ou são tantas vidas que eu nem sei qual é a real)

Às vezes eu esqueço que tenho blog, às vezes eu esqueço que eu existo. Quando a segunda coisa acontece eu me apego à internet e suas maravilhosas ferramentas (Orkut, Twitter e etc...) e/ou a um bom sonho, com vários ingredientes de aventura e sci-fi. Mas a primeira coisa é sempre a mais comum a acontecer. Eu tenho preguiça de escrever. Pronto, falei. Só isso justifica o fato de meu blog ser tão preterido.

Eu escrevo praticamente todos os dias no Twitter. Eu escrevo obrigatoriamente todos os dias no Orkut. Eu comento em blogs e sites de outrem. Meu blog se pergunta "Ó, meu dono, por que me abandonaste?". Não sei te responder, ó filho preterido, já disse que tenho preguiça de escrever. Não que eu não saiba fazê-lo. Até acho que sei. Ou não? Sei lá. Bom, uma coisa é inegável, um blog é algo pessoal e muito mais íntimo que um Orkut ou Twitter da vida. No Orkut, os posts se perdem na multidão, no Twitter, aparentemente, apenas os amigos verão o que foi escrito. Mas aqui, não. As pessoas que aqui entram, supondo que alguém entra aqui, esperam ler algo edificante, renovador e/ou engraçado. E aí, que está o big deal, meu caro blog. Eu não sei se sou capaz para tanto. "Mas peraí, o medo da incompetência, de não ser aceito, não é a causa da sua fuga para este mundo virtual", diria meu perspicaz filho virtual. Tendes razão (já dizia o Conde Maurício de Belmont).

A verdade é que quando a vida não está tão boa assim, apela-se para um subterfúgio, um algo que se quer dizer, mas não há ninguém para ouvir. É claro que às vezes estamos bem e também sentimos necessidade disso, de um complemento. Ah, a vaidade. É essa maldita virtude (?) que nos leva a arriscar, a dar a cara a bater e, objetivo conquistado, aparecer. "Então, se assim me permite dizer, com todo respeito, meu caro pai, se tiveste coragem de ir no botão 'Criar blog' e quiseste te expor desta maneira, assume a bronca!". É verdade, de novo! Nossa, meu blog está impossível hoje. Já aprendi muito com o Orkut, até já me diverti com o Twitter, mas o meu Blog (terei de pôr a maiúscula) nunca tinha falado comigo assim antes, jogando verdades na cara. "Quem te pariu que te embale", diria a minha mãe, a avó do dito cujo. E tem razão.

Cada conta que criamos, cada site que logamos é uma vida nova que se cria. E qualquer tentativa de deixá-la de lado é tão dolorosa quanto uma mutilação. Tens razão, meu filho, terei de te dar atenção daqui pra frente. Terei de exibir a minha vaidade, veias abertas a todos (aqueles que se aventurarem, é bem verdade). É assim nossa natureza, quem não aparece não é lembrado. Às vezes quem aparece, se desmerece. Porém o risco é tudo, para se achar vivo. Até que o LogOut nos separe.

PS: Devo a ressucitação do meu blog à Freak. Ela me mandou um selo, em homenagem a este humilde espaço. Eu teria que repassá-lo a cinco outros endereços. Mas quebrarei a corrente. Gosto mesmo é de nadar contra ela.

Quem quiser conhecer minhas "outras vidas", aí vai:
Twitter
Orkut